Ex-gerente da Petrobras reafirma que toda a cúpula sabia de desvios
Venina Fonseca prestou depoimento durante cinco horas ao MPF em Curitiba
A ex-gerente da Petrobras Venina
Velosa da Fonseca prestou depoimento durante cinco horas ao Ministério
Público Federal em Curitiba, contou que está sendo ameaçada e entregou
milhares de documentos, principalmente cópias de emails e relatórios
internos de auditoria, à força tarefa de procuradores que investiga o
cartel de empresas e o desvio de dinheiro de obras da estatal.
Segundo o advogado Ubiratan Mattos, que representa Venina, ela reafirmou
que toda a diretoria da Petrobras sabia das irregularidades, incluindo
Graça Foster, e os documentos devem ajudar a força tarefa nas
investigações.
Mattos explicou que Venina manteve cópias dos emails porque sabia que
estavam sendo cometidas irregularidades e decidiu ajudar nas
investigações depois de ver seu nome incluído entre os responsáveis
pelas irregularidades nas obras da Refinaria Abreu e Lima, ao lado de
Pedro Barusco Filho, da diretoria de Engenharia e Serviços, que mantinha
contas no exterior a serviço do esquema. Barusco, que assinou acordo de
delação premiada e se prontificou a devolver cerca de R$ 100 milhões
mantidos fora do país, era subordinado de Renato Duque.
- A vilã não é Venina. Ela está do lado da ética e sempre denunciou
internamente. A diretoria toda sempre soube, incluindo a Graça (Foster) -
disse Mattos.
O advogado afirmou que Venina passou a ser intimidada por telefone após a
primeira denúncia, com recados como "você está mexendo com gente
grande".
- Havia um processo de desconstrução da imagem da Venina. Colocar o nome
dela ao lado de Pedro Barusco é um absurdo - afirmou Mattos.
O Ministério Público Federal apresentou à Venina a possibilidade de ela
ser ouvida como "colabora", em acordo de delação premiada, mas o
advogado Ubiratan Mattos afirmou que ela não considerou necessário.
- Em nenhum momento ela cogitou depor como colaboradora. Ela será ouvida como testemunha de acusação - explicou.
Venina deverá prestar novos depoimentos ao Ministério Público Federal e
tem pelo menos três depoimentos marcados para fevereiro, a serem
prestados ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná,
responsável pelos inquéritos da Operação Lava-Jato que não envolvem
autoridades com foro privilegiado.
- Essa foi apenas a primeira conversa com o Ministério Público Federal.
Mantivemos o sigilo por segurança. Ela tem sofrido ameaças por telefone -
explicou o advogado, acrescentando que Venina é divorciada, tem duas
filhas e teme pela segurança delas.
Para Mattos, a atitude de Venina da ex-gerente da Petrobras é essencial
para mudar a forma como são feitos negócios no Brasil, que causa
indignação a todos os cidadãos, inclusive a ele próprio.
O procurador Deltan Dallagnol, que lidera a força-tarefa do MPF na
Operação Lava-Jato, também ressaltou que Venina depôs na condição de
testemunha e não negou que ela possa ser ouvida novamente na sequência
das investigações.
- Todos os elementos formais, como documentos e emails, foram entregues.
Mas o teor deles e do depoimento vão continuar em sigilo - afirmou o
procurador.
Comissão responsabilizou Venina ao lado de Duque, Costa e Barusco
Venina foi gerente executiva do Abastecimento-Corporativo entre 2005 e
outubro de 2009 e integrou o Conselho de Administração da Refinaria
Abreu e Lima ao lado de Paulo Roberto Costa e José Carlos Cosenza.
O relator da Comissão Interna de Apuração que investigou irregularidades
nas obras da refinaria afirmou ela assinou em 2007, atendendo a pedido
de Costa, o documento de antecipação de obras da refinaria, que teria
causado problemas nas obras e a necessidade de vários aditivos
contratuais com as fornecedoras,a maioria deles aumentando preços.
Em 2008, ela e Pedro Barusco assinaram o documento que pedia a Duque e
Costa a instauração de 12 licitações para a Refinaria. Segundo a
Comissão, a diretoria executiva não foi comunicada sobre a mudança na
estratégia para estas contratações. No mesmo ano ela assinou com Barusco
Filho um pedido de inclusão de empresas na licitação (a vitoriosa foi a
Engevix e a EIT) e não houve parecer jurídico para a finalização do
processo licitatório.
O relator da Comissão foi Gerson Luiz Gonçalves, chefe da auditoria
interna da estatal e gerente executivo mais antigo na empresa. Depois de
finalizado o relatório, Venina foi demitida. Gonçalves também chamado a
depor como testemunha de acusação pelo Ministério Público Federal.
G1
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