Piloto conta como sobreviveu a três acidentes aéreos no Acre
Último acidente ocorreu no dia 5 de outubro; piloto diz que teve alucinações.
'Vou continuar pilotando', garante Jonas Guilherme.
O piloto Jonas Guilherme, de 63 anos, chegou nesta quinta-feira (9), a Rio Branco,
após passar mais de três dias perdido na floresta, depois que a
aeronave Cessna 182, pilotada por ele, caiu em Sena Madureira, interior
do estado, no domingo (5). O resgate ocorreu somente na quarta-feira
(8). Ao G1, Jonas conta que os 37 anos de aviação e a
experiência em outros dois acidentes aéreos o ajudou a sobreviver até
que fosse resgatado.
O primeiro acidente ocorreu em 1981. Jonas lembra que logo que decolou
da pista do antigo aeroporto de Rio Branco, no bairro 6 de Agosto, no
Segundo Distrito, o motor do avião de pequeno porte Bonanza parou de
funcionar. "Eu voltei com o motor parado. Consegui pousar atravessado na
pista, quebrei o avião, mas não machuquei ninguém", conta.
Já em 1991, o problema foi mais grave. O piloto diz que durante uma viagem entre o município de Sena Madureira
para a capital, em um avião Sertanejo, uma pane na hélice e a grande
quantidade de fumaça que havia no local, causaram o segundo acidente.
Dessa vez, entre os tripulantes estavam uma mulher e uma criança, que
sofreram escoriações.
O helicóptero passava, mas ninguém me via" Jonas Guilherme
"Por causa da fumaça, eu não enxergava nada. Tentei 'jogar' o avião na
estrada, mas achei que tinha passado. Não tinha GPS na época. Quando eu
consegui ver a estrada estava baixo demais. Arrancou uma asa, me
machuquei, cortei a boca, quebrei três costelas e fiz uma cirurgia na
coluna", lembra.
Mesmo assim, ao avaliar as experiências, Jonas é direto ao dizer que o
terceiro acidente foi o pior dos três. Foram exatamente 75 horas perdido
na floresta sem comida e sem água potável. Após 15 minutos da
decolagem, o piloto lembra que o motor do Cessna 182 começou a
apresentar problemas. O outro agravante era um intenso nevoeiro na
região.
"Eu passei por cima de um lago, mas não deu para descer, porque eu já
estava baixo demais. Se eu tentasse, podia estourar, porque estava com
pouca velocidade. Quando parou o motor, o avião bateu numa árvore, isso a
uns 40 metros de altura. Bateu em alguns galhos, que o amorteceram, e
desceu, de nariz. Só escutei a pancada", descreve.
Momento em que piloto Jonas Guilherme foi resgatado (Foto: Douglas Barros/ Arquivo pessoal)
A preocupação inicial do piloto era da aeronave incendiar. Mesmo após
as poltronas caírem e o imprensarem no painel, Jonas conseguiu encontrar
a bateria e desligar. Em seguida, passou a se esforçar para sair do
avião.
Grito, eu escutava todo dia, tinha alucinação"
Jonas Guilherme
"Tenho problema de artrose nas pernas, já fiz cirurgia, e foi uma luta
para sair de dentro do avião. Consegui abrir a porta, foi difícil,
porque era para eu ter aberto antes, mas a gente nunca pensa que vai
acontecer um acidente. A gente sempre quer chegar num lugar bom para
pousar", fala.
36 horas sem dormir
Por achar que não conseguiria caminhar muito tempo na mata, Jonas
decidiu ficar próximo ao avião. Ele conta que, em nenhum momento, chegou
a duvidar que seria resgatado. "Eu estava inteiro, então, pensei que
uma hora alguém ia me encontrar. Pensei em sair andando, mas eu não ia
aguentar andar muito. O helicóptero passava, mas ninguém me via, porque o
avião caiu 'embicado' e ninguém via por causa da mata", explica.
Em relação à sobrevivência, o piloto diz que passou as primeiras 24
horas sem beber água. O acidente ocorreu por volta das 8h do domingo
(5). "Quando foi às 8h da segunda-feira [6], eu vi um lago há uns 15
metros, um igarapé cheio de mato, não tinha muita água. Peguei uma
sacola de plástico no avião, tirei um pouco de água, uns dois litros,
coei com a camisa e tomei", lembra.
Aeronave Cessna 180 caiu entre árvores, após motor parar de funcionar (Foto: Equipe de busca/PM)
Jonas conta também que, após o acidente, passou 36 horas sem dormir.
Ele usava a porta do avião para se recostar e descansar. "Eu sentava na
porta do avião, deitava com a mochila na cabeça e ficava com as pernas
para fora. Eu cheguei a tomar chuva um dia todo, era muita chuva, mas me
ajudou a pegar um pouco de água. Eu não tinha medo dos animais",
garante.
Alucinações e Resgate
Devido ao tempo sem comer, o piloto diz que chegou até a ter
alucinações. No momento do resgate, ao ouvir as vozes das pessoas da
equipe de busca, percebeu que o drama havia terminado.
"Grito, eu escutava todo dia, tinha alucinação. Mas eu ouvi um grito
diferente, vindo do outro lado desse igarapé seco. Eles perguntavam:
'Como está o piloto do avião? Está vivo?' e eu respondi: 'É ele que está
falando'. E oito mateiros vieram", relembra.
Depois de ser resgatado, o piloto foi encaminhado ao Hospital de Sena Madureira apenas para fazer exames.
Mesmo depois de três acidentes aéreos, Jonas nem cogita a possibilidade de parar. "Vou continuar pilotando", conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário