Miss Bumbum lésbica: “Foi um susto. Sonhava com um príncipe, não uma princesa”
Ana Paula Souza, 27 anos, representa o Distrito Federal no concurso de Miss Bumbum 2014. Ela tem tudo o que os homens adoram numa mulher
Quando entrou no concurso, ninguém sabia, ou ao
menos desconfiava, da orientação sexual de Ana Paula. É como se uma
mulher assim, com tantos atributos físicos que agradam os homens, não
pudesse possivelmente ser lésbica. Mas a natureza tem dessas coisas.
iGay: Como e quando você se descobriu homossexual? Foi difícil se assumir para a família e amigos?
Ana Paula: Meu primeiro relacionamento homoafetivo foi com a
Bruna, minha atual parceira, há mais ou menos dois anos. Eu via mulheres
bonitas e ficava atraída, mas nunca tinha me envolvido. Ainda existe
muito preconceito, o que faz muitas pessoas não se assumirem e viver um
casamento hétero de fachada. Penso que o importante é ser feliz,
independente se sua felicidade é estar com uma pessoa do mesmo sexo ou
não. Eu me surpreendi com a aceitação da minha família. Meus pais são
religiosos e eu fiquei morrendo de medo, achando que eles viriam com uma
bíblia pregando o evangelho, dizendo que Deus deixou no mundo o homem e
a mulher para se reproduzirem. Mas não, meus pais disseram que me
apoiam em tudo, e querem que eu seja feliz.
iGay: Como você conheceu a Bruna?
Ana Paula: Nos conhecemos por algumas amigas em comum em uma
balada em Goiânia. Até então eu nem imaginaria um dia ter relacionamento
com mulher. Era um momento muito difícil da minha vida. Estava muito
carente e nós duas conversávamos muito, ela se mostrou bem amiga, eu nem
sabia que ela era lésbica. Com o passar dos dias, estávamos bem
envolvidas, foi quando ela disse que gostava de mulher e que estava
apaixonada por mim. Levei um susto, pois não esperava isso no momento.
“Sempre sonhei com um príncipe encantado e não com uma princesa” (risos). Depois disso também fui me envolvendo, mas só fomos pra cama depois de
três meses.
“Fiquei sem jeito, foi estranho,
algo novo para mim, mas foi gostoso. Com o passar dos dias já não sentia
falta de homem e ela já me completava totalmente
iGay: Na última semana, a Miss Espanha 2008/2013 também se
assumiu homossexual, sendo a primeira vencedora de um concurso de beleza
nacional a sair do armário. Por que ainda vemos poucas homossexuais
assumidas em concursos de beleza?
Ana Paula: A sociedade é muito preconceituosa, e isso acaba
reprimindo os ainda não assumidos. Sair do armário é uma decisão pessoal
e com muitas conseqüências. Existe um efeito perverso reforçado pelo
grande número de pessoas que ainda não saíram.
iGay: Qual a importância de sair do armário para a comunidade LGBT?
Ana Paula: A sociedade aceita melhor o que é mais comum. Num
concurso de beleza, por existir tanto preconceito, pode prejudicar o
participante e por isso muitos acabam não assumindo. Por estarmos na
mídia, assumindo para o mundo a opção sexual, podemos ajudar outras
pessoas a também se assumirem e mostrar que o importante é o amor.
iGay: Como você está lidando com os comentários homofóbicos postados na sua página?
Ana Paula: Eu já esperava essa reação das pessoas.
Recebo mensagens de católicos e evangélicos com comentários repudiando
minha situação. Mas esses mesmos parecem não ter a mínima ideia do que
sejam virtudes exaltadas por Deus, como não julgar, amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Será que essas pessoas
estão amando a Deus quando condenam seus filhos?
iGay: Se você pudesse dar um conselho para outras meninas que
gostariam de se assumir mas estão com medo da reação das pessoas, o que
você diria?
Ana Paula: Sair do armário é ter forças para ser
você mesmo, significa não mentir e nem se esconder. E ter orgulho e não
medo de ser quem você é. Poucas coisas podem ser mais gratificantes do
que isso.
iGay: Você teve algum contato com as outras
participantes do concurso Miss Bumbum depois de se assumir? Como elas
reagiram com a notícia?
Ana Paula: Tenho pouco contato com as meninas, mas com as que converso nunca tocaram no assunto.
iGay: Como você lida com o assédio do público masculino? Você
alguma vez já teve que contar sobre sua orientação sexual para afastar
os mais insistentes?
Ana Paula: Homens não estão nem aí se a mulher é hétero ou
não. Eles ainda brincam que com duas é melhor. Levo na brincadeira até
porque algo do tipo é impossível. Alguns me enviam mensagens dizendo que
não se importam com minha orientação sexual, outros dizem nem
acreditar.
iGay: Agora que você contou publicamente sobre sua orientação
sexual, o assédio das fãs mulheres deve ter aumentado bastante. Como a
Bruna está lidando com isso? Ela tem muito ciúmes?
Ana Paula: Tenho recebido muitas cantadas de
mulheres e por sinal mulheres lindas. Inclusive até mulheres casadas com
homens, dizendo que têm curiosidade de ficar com mulher e perguntando
se tinham alguma chance comigo. Eu e a Bruna somos doentes de ciúmes, já
até pensamos em procurar ajuda psicológica, pois uma quer controlar a
outra o tempo todo. Já brigamos algumas vezes em público inclusive,
porque não sei deixar nada para depois e ela muito menos. Se fico no
celular ela já vem e pergunta com quem converso e eu sou do mesmo jeito.
Se aparece uma pessoa nova na agenda já é motivo para uma boa
discussão. Quando recebo cantadas de mulheres ela fica achando ruim, mas
tenta encarar com profissionalismo.
Se estamos juntas há dois anos, realmente existe amor, porque
os móveis da casa e as louças temos que repor constantemente (risos).
Ela aqui do meu lado já brigando comigo que não deveria falar essas
coisas, hahaha!
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