quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O Homem do Baú

Quebra do Panamericano obriga Silvio Santos a encarar o mundo real

Mauricio Stycer

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A quebra do Banco Panamericano, ocorrida em 2010, é uma das raras situações que ainda obrigam Silvio Santos a deixar de lado o personagem que conhecemos há décadas, da televisão, e encarar o mundo real. Mesmo assim, obrigado pelas circunstâncias a prestar depoimento à Justiça sobre o rombo de R$ 4,3 bilhões, é difícil decifrar o homem.

Testemunha de defesa de um dos réus na ação penal sobre o rombo, Silvio respondeu às perguntas dos advogados dos acusados, de um procurador da República e do juiz federal que conduz o processo, ao longo de 55 minutos, na última terça-feira (19). Segundo o relato do repórter Fausto Macedo, publicado no Estadão, a sua frase mais repetida foi “não me lembro”.
Numa passagem importante, Silvio reviu uma das declarações que deu em outro depoimento, à Polícia Federal, em 2011, quando disse acreditar que o presidente do banco, Rafael Palladino, era o “autor intelectual, o craque'' da estratégia que levou ao rombo na instituição.
No depoimento dado esta semana, ele disse: “Acho que o Rafael deve ter concordado, mas não que tenha sido o autor intelectual. O cérebro era o Wilson (de Aro, ex-diretor financeiro do banco), esse era até professor de finanças. (…)''. E, falando do executivo escolhido para comandar o seu banco, observou: “O Rafael não é tão competente quanto o Wilson. Não é possível que ele tenha sido o autor intelectual, não creio que ele tenha competência para isso. O Wilson, sim.”
Questionado se havia lido o depoimento anterior, Silvio disse que não se lembrava nem de ter ido à Polícia Federal, muito menos do que disse na ocasião. “Minha memória, a idade…”, suspirou. E o advogado que o acompanhou na ocasião? “Não lembro, advogado sabe menos do que eu. Não é meu costume ir com advogado.''
Indagado se tinha informação que um executivo retirou dinheiro em espécie do banco, o empresário observou: “Falaram alguma coisa disso, que alguém levou R$ 16 milhões para a garagem, um advogado de nome italiano, acho eu. A única coisa que eu soube. É tanta coisa que falam que eu não me lembro.”
E acrescentou esta pérola: “Fui uma única vez no banco. Não me lembro, realmente, quem me disse isso. O que tem de fofoca. Se você vai se preocupar com fofoca é melhor ser funcionário do que ter uma empresa. Fofoca é muito comum em empresa.''
Silvio insistiu em fixar a imagem de um empresário alheio aos próprios negócios, ao ser questionado sobre os pagamentos de bônus para os executivos da instituição. “Não sei, minha função é só animador de programa. Procuro colocar gente competente nas empresas, não me envolvo com as empresas.''
O depoimento segue nesta toada, repleto de “me diziam que”, “me falaram que” e “não sabia”, chegando ao ápice quando o apresentador repetiu não conhecer a própria composição do Grupo Silvio Santos: “Dizem que tem 30 empresas. Eu só conheço três, a Jequiti, que é muito atuante no mercado, a Liderança e o SBT.”
E mais: “Todo mês eu participava de reuniões, tinha o Resultado Geral dos Acionistas. Aquilo ali, ler ou não ler é a mesma coisa. É tanto número! Eu finjo que entendo, é muito número.''

Trajetória do Silvio Santos:

Nascido em 12 de dezembro de 1930, no Rio de Janeiro, Senor Abravanel, seu nome de batismo, cresceu em um lar humilde e começou a vida como camelô. Logo participou de um concurso de locutores de rádio e foi o primeiro colocado. Não demorou muito para conquistar fãs nas rádios e ir parar na televisão.
Acervo UH/Folha Imagem

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