Casal gastava R$ 10 mil por noite com hotel e vinho
DE SÃO PAULO
Reprodução/TV Globo
Vanessa Alcântara, 27, ex-namorada de Luis Alexandre Cardoso de Magalhães, um dos auditores presos por cobrança de propina |
Vanessa Caroline Alcântara diz que não ficou com nenhum centavo do
dinheiro que o fiscal Luis Alexandre Cardoso de Magalhães acumulou, mas
usufruía de ter um companheiro muito rico.
"Quem não gosta de jantar num restaurante caro e bom? Eu gosto. Fui
apaixonada pelo Luis, mas nunca me envolvi nessa coisa de propina",
afirma Vanessa.
Em conversas com promotores, ela contou que era comum o casal gastar R$ 10 mil em uma noite de diversão.
Segundo ela, o casal ia ao Figueira Rubayat, restaurante nos Jardins, e o
fiscal perguntava: "Qual é o vinho mais caro da carta? Eu quero esse".
Tomavam um vinho de R$ 4.000. Depois, afirma Vanessa, eles ficavam no
hotel Unique, também em São Paulo onde gastavam R$ 5.000.
Vanessa diz que o fiscal começou a divulgar que ela era garota de
programa por causa da disputa em torno da guarda dos filhos. "Ele queria
me desqualificar. É muito mais fácil ele falar que eu sou puta para
ficar com o filho".
Ela diz que teve um relacionamento de dois anos e meio com Magalhães e que morou com ele durante um ano.
Nas gravações de telefonemas feitas pelo Ministério Público durante as
investigações, Magalhães diz que conheceu Vanessa no Bamboa, uma casa em
Pinheiros que cobra ingressos de R$ 200. Lá, as garotas cobram no
mínimo R$ 300 por um programa, segundo frequentadores da boate.
Vanessa diz que estudou propaganda e marketing e é gerente de uma loja de roupas em Valinhos, a 89 km de São Paulo.
"Moro num apartamento simples e ando com um carro financiado. Não tenho
nada em meu nome." Depois, chorando, faz um apelo ao repórter: "Vou te
pedir como mãe: não me denigre!".
Ela diz que ficava sabendo do esquema de fraude na cobrança de ISS
porque teve um relacionamento de dois anos e meio com o auditor
Magalhães, dos quais moraram juntos por um ano, segundo ela. "Ele
chegava cansado em casa e contava como foi o dia. Coisa de casal".
Foram nessas conversas que ele citou duas incorporadoras e mencionou
políticos. Ela se recusa a repetir os nomes que citou aos promotores,
seguindo uma recomendação de seu advogado, Gabriel Rossi.
INDÍCIOS
Segundo a Folha apurou, ela não citou nomes de políticos, só de incorporadoras.
O Ministério Público encara com um certo ceticismo as informações que Vanessa trouxe à investigação porque ela não tem provas.
Mas ela trouxe bons indícios dos contatos do grupo. Entregou uma lista
com o nome de todos os telefones que apareciam na agenda do celular do
fiscal.
Ela não tirou foto dos conatos, mas fez uma cópia a mão, o que torna a prova praticamente imprestável.
Entregou também aos promotores cópia de uma pasta com cerca de 150
páginas que Magalhães esquecera na casa. O conteúdo das páginas é
mantido em sigilo.
Outro motivo do ceticismo é que o fiscal assinou um acordo de delação
premiada, pelo meio do qual terá redução de pena em troca de informações
sobre o esquema.
OUTRO LADO
O advogado Mario Ricca, que defende o fiscal Luis Alexandre Cardoso de
Magalhães, diz que não faz sentido a acusação de que seu cliente queria
usar Vanessa Alcântara como laranja.
"Você acha que ele abriria empresa em nome de alguém com quem ele estava
brigando pela guarda dos filhos? É uma mulher que não merece a menor
credibilidade".
Segundo Ricca, Vanessa tem transtorno bipolar, com mudanças repentinas
de humor, muitas vezes com agressões contra o fiscal e o primeiro marido
dela. "Há 18 boletins de ocorrência registrados contra ela".
Ricca diz que não é verdade que os dois moraram um ano juntos. "Ela brigava tanto que eles ficaram na mesma casa por um mês".
O advogado, que também cuidou do caso sobre os filhos, refuta a acusação
de que a guarda foi retirada dela sem razões objetivas. "O relatório
comportamental sobre a Vanessa é devastador". (MARIO CESAR CARVALHO)
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