História de ex-policial da PB condenado por matar a mulher e que se tornou diretor de presídio é destaque na ‘Folha’
A história de vida um ex-policial militar
paraibano condenado a 15 anos de prisão por matar a mulher ganhou
repercussão nacional e foi destaque no portal da Folha de São Paulo.
O fato que chamou atenção da imprensa nacional é que o homem hoje é diretor de um presídio no interior do Estado.
CONFIRA A MATÉRIA NA ÍNTEGRA:
Condenado por matar mulher, ex-PM denuncia violência e vira diretor de presídio.
Condenado por matar mulher, ex-PM denuncia violência e vira diretor de presídio.
DEPOIMENTO A WILLIAM DE LUCCA/COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SAPÉ (PB).
O ex-PM Antônio Galdino da Silva Neto, 46, acreditou que sua
vida havia terminado em 1991, quando foi condenado a 15 anos e oito
meses de prisão pela morte de sua mulher. Sofreu ameaças de morte dentro
da cadeia, tornou-se religioso, voltou a estudar e fundou um grupo de
amigos e familiares de detentos, que defende melhores condições aos
condenados. Hoje é diretor de presídio no interior da Paraíba.
Desde muito novo queria ser policial militar. Em 1987 prestei
concurso e comecei a trabalhar como policial em Tavares, sertão da
Paraíba.
Tinha a convicção de que matar bandido era certo, já que eles
não mereceriam segunda chance. Eu era violento, abusei da autoridade.
Não sei quantas pessoas matei.
Casei-me pela primeira vez antes de entrar na polícia. Tive
três filhos e, depois de quatro anos, me separei e fui morar com outra
mulher, que eu tinha engravidado.
Um dia, depois de ter bebido e discutido com ela o dia
inteiro, peguei a arma para intimidá-la e acabei fazendo um disparo
acidental, que a atingiu no pescoço. Ela morreu nos meus braços. Fiquei
desesperado. Três dias depois me entreguei à polícia e disse que queria
pagar pelo que havia feito.
Fui expulso da PM e transferido para uma cela em Princesa Isabel (PB).
Fui colocado numa cela pequena, suja, com pessoas que tinha
prendido, agredido. Fui ameaçado de morte. Por sorte, um justiceiro de
São Paulo estava na cela e, como gostava de policiais, ficou meu amigo e
a gente se protegeu.
No fim de 1991, fui condenado a 15 anos e oito meses de
prisão em regime fechado e transferido para um presídio em Campina
Grande.
Se em Princesa Isabel era ruim, lá era o inferno. Tinha gente
que eu tinha prendido, perseguido, dado tiro. Era como se tivesse sido
jogado aos leões para ser devorado.
Vi gente sendo espetada, apanhando com metal na cabeça,
estupro. Queria pedir socorro, mas não tinha para quem. Como dizem, ali o
filho chora e a mãe não vê.
Entrava tudo lá dentro: bebida, droga, arma. Eu andava com revólver, munições e faca. Achava que ajudaria a me manter vivo.
Soube que havia um plano para me matar. Colocaram meu nome numa lista de ex-PMs que seriam mortos.
Alguns dias depois, estava na cela e gritaram que havia uma
ligação. Ao sair, vi uns 40 presos armados correndo pra cima de mim.
Agentes penitenciários chegaram e acabaram com a confusão.
Em 1993, conheci um grupo que fazia evangelização no presídio. Um pastor disse que minha vida iria mudar.
Criei coragem e disse ao diretor que queria sair do
isolamento. Voltei a estudar e a trabalhar no presídio. Terminei o
ensino fundamental e o médio e comecei a evangelizar em todos os
pavilhões.
Em 1995, já transferido para Patos (PB), dei entrada na progressão de regime.
Conheci minha mulher antes de sair. Ela foi visitar o
presídio, começamos a conversar e ela achou que eu também estava ali
visitando.
Continuamos a nos ver depois que saí da cadeia. Propus
casamento no primeiro dia de namoro e ela aceitou. Fomos morar com os
meus quatro filhos e os dois dela. Tivemos mais dois depois.
Montamos uma associação de amigos de condenados, denunciando
torturas. Passei a visitar presídios, cobrando o cumprimento da lei.
Logo me mudei para João Pessoa para trabalhar como segurança
da Assembleia Legislativa, a convite de um deputado amigo de minha mãe.
Ainda dormia no presídio e trabalhava de dia até 1997, quando recebi o
indulto.
Na Assembleia, fiz amizade com o atual governador, Ricardo
Coutinho [PSB], então deputado. Ao assumir o governo em 2011, Ricardo me
convidou a dirigir o presídio de Sapé. Parecia que aquilo não estava
acontecendo.
Entrei e fui falar com os presos, sem segurança. Disse que
não aceitaria violência, armas, drogas. Sabia como as coisas
funcionavam.
Atualmente todos os presos estudam e metade trabalha.
Trouxemos as famílias dos detentos ao presídio e a associação conseguiu
comprar um terreno em que os familiares podem plantar.
Com isso, a taxa de reincidência no presídio caiu muito. Para
cada cem presos que voltam ao convívio social, só dois reincidem. Acho
que eles viram esperança na minha história. Pensam que precisam estudar
para ter um futuro diferente, como tive.
Folha.com
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