Haddad bancou QG de investigação para prender fiscais da prefeitura
CÉSAR ROSATI, DE SÃO PAULO
Fachada do edifício Ouro para o Bem de São Paulo, no centro da capital. |
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), admitiu que pagou do
próprio bolso o aluguel de uma sala ao lado do ponto de encontro usado
pelo grupo de auditores acusado de cobrar propinas de construtoras na
capital. De acordo com Haddad, isso foi feito para não levantar
suspeitas dos envolvidos na investigação.
O escritório fica no edifício chamado Ouro para o Bem de São Paulo, na
região central da capital. De acordo com Haddad, ele bancou dois meses
de aluguel e o controlador-geral do município, Mário Vinicius Spinelli,
arcou com o seguro-fiança.
Os gastos, segundo ele, foram de ao menos R$ 500, do aluguel, e de R$
3.000, do seguro-fiança. "O juiz autorizou uma escuta ambiental [...] e a
prefeitura não tem legislação para permitir um contrato de locação que
não seja publicado no 'Diário Oficial'. Então se nós fizéssemos o
contrato de locação da sala vizinha e publicássemos no 'Diário Oficial'
eles saberiam que estavam sendo investigados no local onde eles dividiam
a propina", disse o prefeito.
O prefeito ainda afirmou que esta prática comprova a falta de aparelhamento do Estado para combater a corrupção.
"É padrão você permitir que uma Controladoria tenha um pequeno valor
para ações que tenham que ser feitas em sigilo e da qual ela só presta
conta depois da operação revelada. Por exemplo, um caso como este
envolveu R$ 10 mil entre o seguro e o aluguel, mas você precisa ter
instrumentos. Quando você tem que botar do bolso para combater a
corrupção, é porque a falta de aparelhamento é total. É preciso
estruturar o Estado para se defender", disse Haddad.
O escritório que os auditores Eduardo Horle Barcellos, Carlos Augusto di
Lallo do Amaral, Ronilson Bezerra Rodrigues e Luis Alexandre Cardoso de
Magalhães usavam como QG para cobrar propina de incorporadoras foi
alugado pelo irmão do deputado federal licenciado Rodrigo Garcia
(DEM-SP). O grupo chamava o local de "ninho".
Rodrigo foi secretário de gestão da prefeitura entre 2008 e 2010, quando
Gilberto Kassab era o prefeito, e, atualmente, ocupa a secretaria de
Desenvolvimento Econômico do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
O escândalo foi revelado na semana passada. Ontem, o fiscal Luis
Alexandre Cardoso de Magalhães foi solto beneficiado pela delação
premiada - dar detalhes do esquema em troca de redução de pena.
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