Os mitos do orgasmo feminino
Cercado de tabus e imposições, o auge do prazer pode ser atingido por mais de um caminho. Mas passa pela cabeça -- e começa no autoconhecimento
O passo fundamental para se dar bem na cama é
livrar-se das amarras da “performance perfeita” e não querer só agradar o
parceiro. Fingir o orgasmo é uma armadilha para a própria mulher. Daí a
importância de se conhecer e não ter vergonha da masturbação – tocar-se
não é exclusividade dos homens. “Com a masturbação clitoridiana a
mulher aprende a ter prazer orgástico, e transporta este prazer,
treinado e estimulado por ela ou pelo parceiro, para ter o clímax
intravaginal”, resume Carmita Abdo, sexóloga fundadora e coordenadora do
Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex).
Mara Altman: 'Percebi que as mulheres precisam conhecer como seus corpos funcionam e descobrir o que as excita'
A
autora norte-americana Mara Altman se deu conta da importância do
estímulo depois de concluir sua pesquisa para o livro “Esse Tal de
Orgasmo” (L&PM Editores). Antes, a jornalista e escritora achava que
o orgasmo era responsabilidade do parceiro. “Percebi que as mulheres
precisam conhecer como seus corpos funcionam, descobrir o que as excita e
qual a melhor maneira de ter um orgasmo”, afirma. “Além de comunicar
claramente para os nossos parceiros a melhor forma de nos dar prazer.
Não é justo esperar que ele leia a nossa mente para o sexo ser bom”.
Outro mito bastante perpetrado pelo cinema e pela pornografia é o
orgasmo perfeitamente sincronizado. “Achar que o homem e a mulher
precisam chegar juntos ao clímax é uma bobagem. Acontecer isso é
raridade”, esclarece Gerson.
Pequenas grandes mentiras
Os
motivos para as mulheres mentirem para o parceiro são variados. “Seja
porque não querem desapontá-los ou porque estão cansadas e querem acabar
logo, ou porque querem que os homens pensem que elas são orgásmicas
mesmo não sendo”, salienta a sexóloga Pepper Schwartz, doutora em
sociologia, professora na Universidade de Washington (EUA) e uma das
organizadoras da "The Normal Bar" (em tradução livre, “O Padrão Normal”), a mais recente e completa pesquisa sobre comportamento sexual humano.
Leia também: 20 dicas para conquistar ou turbinar seu orgasmo
Segundo
pesquisa da Universidade de Chicago (EUA) realizada em 2013, 70% das
mulheres nunca gozaram com parceiros. Para Lopes, o índice tem muito a
ver com o machismo. “Atrás de uma mulher oprimida há sempre um homem
opressor”, acredita o sexólogo, que ainda situa os países
latino-americanos como mais problemáticos nesta questão. Estudos do
Projeto de Sexualidade da USP (ProSex) realizados em 2008 dão conta de
que 50% das brasileiras têm dificuldades para chegar ao orgasmo.
Carmita divide as mulheres em três grupos:
“26% nunca tiveram qualquer tipo de orgasmo. 35% têm capacidade para ter
só o orgasmo clitoridiano. E o restante consegue ter os dois,
clitoridiano e vaginal”. Segundo a especialista, variáveis como
autoconhecimento, a disposição da mulher, relacionamentos e parceiros,
entre outros, definem esses números.
Contudo, uma coisa é
certa: o orgasmo tem forte componente cerebral, pois pode ser alcançado
sem o contato físico. “Isso é observável em estudos. Por exemplo, o
parceiro pode mobilizar tanta excitação nela, que o físico não é tão
importante”, comenta Carmita.
Não confunda prazer e orgasmo. Eles
não são sinônimos e o primeiro existe sem o segundo. “Olhares, sentires e
ouvires podem dar mais prazer do que microdescargas elétricas com cerca
de seis segundos de duração”, compara Lopes. Mara completa: “Acho que é
um mito colocar o orgasmo como a parte mais importante do sexo. Isso
faz com que muitas pessoas pensem no orgasmo como um objetivo, quando o
sexo não deveria ter metas. Sexo é melhor quando a pessoa busca o
prazer, não uma pontuação ao final de uma relação sexual. O caminho do
prazer fará com que a mulher chegue lá, ao clímax”.
Mais honestidade
Mitos
e imposições como estas ainda fazem do orgasmo feminino um tabu na
sociedade. É a opinião da ilustradora argentina Fernanda Cohen, 33 anos,
autora de “Guía Ilustrada del Orgasmo Femenino” (Ed. Livros del
Zorzal). “Também tem muito a ver com o fato de ser algo impalpável. O
mesmo pode ser dito sobre arte: é difícil falar sobre o assunto porque é
muito subjetivo”, ela pondera.
Não à toa, em francês, o orgasmo é chamado de
“petite mort”, ou pequena morte, como lembra a ilustradora Fernanda.
“Orgasmos são necessários para levantar nossos espíritos. Assim como
comer chocolate, fazer exercícios, ir ao banheiro, se apaixonar, ter
sucesso em alguma coisa ou o que quer que produza essa sensação”.
Fernanda
já fingiu orgasmo quando era mais nova e afirma que as mulheres usam
esta tática para se livrar de um problema, mas acabam criando um muito
maior. “Contar que fingiu tem quase o peso de uma traição para o homem”,
diz.
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