E... entrei no Tantra - Parte II
Reconheço, porém, que uma hora depois daqueles toques, minha pele
reagiria a um grão de pé, de tão eletrificada. E foi então que ele subiu
um degrau e iniciou uma massagem na área genital.
Colocou luvas de látex. Ouvi o pote de lubrificante sendo aberto.
Minha cabeça fez “click”. Começou, então, a me massagear desde os peitos
até o interior das minhas coxas. O calor da fricção das luvas com minha
pele não era exatamente excitante, mas foi uma sensação gostosa que
ainda trato de comparar com alguma outra já vivida. E parou por aí a
possibilidade de similitudes. Todo o resto do que experimentei na meia
hora seguinte não consigo comparar a nada.
Ele começou massageando meus grandes lábios, seguidos dos menores e do meu clitóris (desde onde ele nasce, nada ver com o conhecido botão externo). A sensação era única pelo fato de que nem eu, jamais, havia me tocado daquele jeito. Parece difícil explicar, mas tudo aquilo, na minha cabeça, estava mesmo dissociado do sexo. Estava sentindo prazer, sim, eram meus genitais, sim, mas o que eu entendo por sexo não era aquilo. Ele me mostrando o que meu corpo era capaz de sentir, como, com que intensidade e o que provocava em mim. Estava abrindo uma via de comunicação com ele. Tive meu primeiro orgasmo aos cinco minutos.
Em meio minuto estava gemendo de novo. Estávamos agora dentro, sem
esquecer toda essa pele exterior, recém descoberta, mas focados bem mais
adentro. Ele enfiava vários dedos na minha vagina, apalpando suas
laterais, até que atingiu o falado ponto G. Eu já tinha tocado e
estimulado ele milhões de vezes, também consegui curtir com algum
parceiro, mas, mais uma vez, o jeito não sexual que ele tinha de tocá-lo
era diferente do que já tinha experimentado.
Na verdade, até quando nos masturbamos, nos guiamos pelos movimentos e
os ritmos que nossas experiências sexuais nos ensinaram. É difícil que
um homem te masturbe sem tentar imitar com os dedos o que ele gostaria
fazer com seu pau. Não que não seja gostoso, mas ser capaz de esquecer
os padrões e escutar o corpo parece, hoje em dia, um truque de mágica. O
sexo é algo fabuloso, mas implica tantas coisas que, às vezes,
mecanicamente, esquecemos que a natureza da experiência é outra. Que
trata-se de dois corpos se conhecendo.
Essa estimulação foi tão intensa que fui incapaz de lidar com ela e
não consegui gozar. Acho que ali achei uns dos meus bloqueios, o medo de
perder o controle. Como se lesse minha mente, ele mudou a técnica e
pegou um vibrador. Pequenininho, com um controle remoto. Meu incômodo
desapareceu e abri uma porta que não sei agora se serei capaz de fechar.
Apenas sentindo a vibração daquele aparelho, os espasmos começaram a
ser muito mais fortes. Percorria da virilha aos lábios e dos lábios ao
interior da vagina, enquanto eu começava a suar e a me contorcer
violentamente. Foram dez minutos, acho, em que fiquei na beira de um
precipício. Às vezes, me abordava a compulsão da vida real, de clamar
mentalmente pelo orgasmo, pelo êxtase final, até que ele parou e entendi
que tudo aquilo tinha sido um super orgasmo.
Passei por algo nunca vivido. Depois descobri que isso se chama de
orgasmo perene, sem declínio após o clímax. Nos homens também tem nome,
orgasmo seco, e pode quebrar os padrões de qualquer um dos meus amigos
que acham que não têm nada por descobrir respeito a sua sexualidade.
Senhores: existe o orgasmo de pau mole.
A imagem que mais se aproxima ao que vivi no Tantra é ser engolido
por uma onda em um dia de mar bravo. Você fica nessa corrente, sem
respiração, sem possibilidade de sair e acompanhando a agitação do mar
até que ele decide te expulsar. Então, você agradece por continuar vivo,
mesmo que ainda sem respiração. No caso, a onda era meu corpo cheio de
prazer, sequestrando minha cabeça. Era ele quem dominava, e não minha
mente, nem minha razão, nem meu medo à perda do controle nem meus
preconceitos, nem a lista do supermercado. Desta vez era meu corpo me
mostrando o que era capaz de fazer e não o contrário. Ele se comportou
como o mar enfurecido.
Caí exausta como um náufrago na areia.
Deixo para o final o relato de que, durante toda essa experiência,
não parei de chorar. Reconheço que pode parecer broxante. Mas não era
pena, não foi dor, nem vergonha. Parece que é normal, me disse. Chorei
uma única vez em toda a minha vida tendo um orgasmo e senti que liberava
toneladas de tensões não resolvidas.
Aquela sessão de prazer e lágrimas me limpou inteira. Senti vergonha
por não reagir com os gemidos normais a aquele ritual, mas também senti
que estava sendo apenas eu.
Enquanto escrevo estas linhas, me questiono se alguém pensará que a
experiência do Tantra não fica longe da prostituição. Na real, paga-se
para que alguém te dê prazer. E fui a primeira em advertir sobre tal
dilema. Mas, insisto, aquilo para mim não foi sexo, foi a chave para um
conhecimento maior do que meu corpo e eu somos capazes de sentir.
E o melhor: há dias que enfrento engarrafamentos, caras feias e
pedidos de chefes com a leve lembrança daquela onda de prazer intenso. O
que experimentei me lembra do que sou capaz de sentir, e me leva, de
imediato, a agradecer por estar viva.
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