Nova imagem do Spitzer revela detalhes da nebulosa Carina
A imagem acima mostra a nebulosa Carina, localizada a cerca
de 7.500 anos-luz da Terra, na direção da constelação de mesmo nome. No
centro dela, a estrela mais brilhante é Eta Carinae — uma monstrenga com
mais de 100 vezes a massa do Sol.
Ela consome seu combustível estelar tão rapidamente que brilha 1 milhão
de vezes mais que nossa estrela-mãe. Os cientistas imaginam que ela em
breve pode explodir como uma hipernova. Trata-se de uma supernova com
mania de grandeza, se é que você consegue imaginar algo assim. Caso ela
dispare uma rajada de raios gama na direção da Terra, poderia até mesmo
levar a uma extinção em massa por aqui. Mas não é o caso de temer. “Em
breve”, em termos astronômicos, leva pelo menos vários milhares de anos
para acontecer. (Lembre-se também de que ela está a 7.500 anos-luz da
Terra, o que significa que ela pode até já ter explodido, mas os raios
luminosos da detonação ainda não chegaram aqui!)
E a conexão com o Brasil? Um dos maiores especialistas
mundiais em Eta Carinae é o astrônomo Augusto Damineli, da Universidade
de São Paulo. Foi ele quem descobriu que essa estrela na verdade é
binária — ou seja, é composta por duas estrelas próximas uma da outra –,
ao prever uma queda periódica de brilho quando uma delas passa à frente
da outra, a cada 5,5 anos.
É PHOTOSHOP?
Imagens como essa nos encantam por sua beleza, mas também
criam uma sensação ambivalente em quem sabe como elas são obtidas. Veja
bem, estamos falando de um telescópio espacial que detecta a radiação
infravermelha — luz que, por definição, nossos olhos são incapazes de
detectar. O que isso quer dizer? Que os cientistas precisam atribuir
cores que enxergamos à luz que não podemos ver de forma que a imagem
apareça para nós. Sim, é isso mesmo. Se estivéssemos próximos da
nebulosa Carina, não é isso que veríamos.
Mesmo as imagens do famoso telescópio espacial Hubble, que
são majoritariamente coletadas em luz visível, também pegam um pouquinho
de infravermelho, de forma que as cores que enxergamos nas fotos não
correspondem exatamente ao que veríamos.
Sentindo-se enganado? Não fique assim. É o único meio de os
cientistas não se limitarem ao que nossos olhos podem ver. E há pistas
sobre o funcionamento do Universo em todas as frequências de luz, das
microondas (que revelam o eco do Big Bang) aos raios gama (que indicam o
poder das explosões de supernova). Não é um truque barato de Photoshop.
É um tributo à engenhosidade humana, que transcende o que nossos
sentidos nos podem oferecer diretamente.
Então, sem mais delongas, outras duas imagens divulgadas para comemorar o aniversário de dez anos do Spitzer.
Acima, vemos a galáxia do Escultor (ou NGC 253), um objeto
que passa por uma fase de intensa formação estelar. Localizada a uma
distância de 10 milhões a 13 milhões de anos-luz (diferentes técnicas
apresentam números variados nesse intervalo), ela é um alvo fácil para
os astrônomos amadores do hemisfério Sul. Com um binóculo já se pode
encontrá-la, próxima à estrela Beta Ceti. E com telescópios de fundo de
quinta já se pode distinguir alguns detalhes.
Essa última imagem não é exatamente nova, mas foi usada pelo
pessoal da Nasa para exemplificar o poder do Spitzer. Trata-se da
nebulosa da Hélice, resultado da morte de uma estrela similar ao Sol.
Quando astros desse tipo esgotam seu combustível, eles sopram sua
atmosfera para o espaço e tudo que resta é um núcleo compacto, conhecido
como anã branca. A nebulosa é o resultado da ejeção do gás estelar.
Muitas vezes referida como o “Olho de Deus”, ela na verdade é uma janela
para o futuro do Sistema Solar. A meros 700 anos-luz de distância, na
constelação de Aquário, ela também é um ótimo alvo para astrônomos
amadores.
Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário