Família comemora o 'primeiro' dia dos pais
Depois de idas e vindas, Thamires, de 21 anos, vai passar a data oficialmente registrada
Fernanda Bassette - O Estado de S. Paulo
Aos 21 anos, este será o primeiro Dia dos Pais que Thamires Caroline Cabral Francisquete vai passar “oficialmente” registrada como filha do bacharel em Direito Alexandre Baitello Francisquete, de 38 anos. O pai fez o reconhecimento formal da paternidade há menos de um mês, em um cartório da zona sul de São Paulo.
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“Comecei a me sentir filha dele de verdade a partir desse momento.
Agora, oficialmente, eu faço parte da família”, diz Thamires, que
decidiu adotar o sobrenome do pai na certidão de nascimento, que ficou
pronta em uma semana. “Já estou até tirando outro RG”, conta.
Antes de oficializar o reconhecimento de paternidade, pai e filha
tiveram uma história conturbada, com idas e vindas. Alexandre tinha só
16 anos quando engravidou a primeira namorada - mãe de Thamires -, que
na época tinha 17 anos. Os pais dela queriam que eles se casassem. Os
pais de Alexandre, não, pois achavam os dois jovens demais para assumir o
compromisso.
Thamires e Alexandre: reconhecimento formal a menos de um mês |
Mudança. Para piorar, a família materna de Thamires se mudou para
outra cidade quando a menina tinha cerca de 1 ano e também não avisou a
família de Alexandre. Eles não deixaram nenhuma informação, nem endereço
nem telefone, o que impediu o contato mais próximo entre pai e filha.
“As únicas fotos que eu tinha, ela ainda era um bebê”, conta Alexandre.
Daí em diante, Thamires foi criada pelo padrasto - a quem chama de
pai até hoje. “Quando eu tinha uns 8 anos, minha mãe me contou que ele
não era meu pai de verdade. Na hora não tive reação, mas guardei aquilo
comigo. Quando fiz 12 anos, pedi para conhecer meu pai biológico.”
Segundo Thamires, a família da mãe não questionou a decisão.
A essa altura, Alexandre já estava casado também, mas ainda não tinha
outros filhos. Pensava na filha frequentemente, especialmente nas datas
festivas, como Dia dos Pais, Natal, Dia das Crianças e o aniversário da
menina. “Sentia um aperto, queria saber como ela estava.”
Em uma tarde, recebeu uma ligação de sua mãe, dizendo que tinha “uma
grande notícia”. “Quando ela me disse que a Thamires tinha ligado
pedindo para me conhecer, não acreditei. Comecei a tremer. Nunca mais
tinha tido contato, achava que tinha perdido minha filha.”
O encontro entre pai e filha foi realizado na casa da avó materna,
que organizou um almoço para os dois. “Fiquei nervosa, tremia muito,
estava ansiosa”, diz Thamires, emocionada por ter o desejo realizado.
“Eu chorava muito. Foi muito emocionante”, lembra Alexandre.
A partir de então, pai e filha passaram a manter um contato mais
próximo, especialmente nos fins de semana, mas ainda sem reconhecimento
oficial da paternidade. Mas, quando Thamires tinha 18 anos, a relação
entre os dois estremeceu: Alexandre arrumou um emprego formal para a
filha, com carteira assinada, mas ela não quis ir. Preferiu trabalhar
com o namorado com transporte escolar - o que o pai, na época,
desaprovava. Para Alexandre, a decepção foi tão grande que ele parou de
falar com a filha. Ficaram 3 anos afastados. Um não ligava para o outro
por orgulho.
O recomeço. Thamires, no entanto, não aguentou a
distância e procurou o pai, que a recebeu de braços abertos em junho
deste ano. Foi nessa ocasião que Thamires falou pela primeira vez sobre
fazerem o reconhecimento formal da paternidade. Alexandre topou na hora.
Os dois marcaram uma data e foram ao cartório. “Foi uma sensação
única. Acho que esperei tempo demais para tomar essa decisão. É muito
mais que um simples nome no papel, é minha identidade, minha história”,
afirma a filha.
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