segunda-feira, 17 de junho de 2013

Especialista alerta que invejoso pode sofrer delírios de crise de identidade
Marcelo Rodrigo 
A partir de quando uma admiração pode se tornar inveja? O desejo por ter o que outra pessoa tem ou ser como ela é pode se tornar uma paranoia sem controle, transformando o desejo em uma obsessão compulsiva e delírios. Em casos extremos podem ser desenvolvidos transtornos e crises de personalidade até transtornos psicóticos. Para o pastor da Igreja Metodista, Cícero Freitas, a inveja é um desvio de conduta que pode levar até à morte quando o agente motivador se torna objeto de cobiça desenfreada.
O advogado Renato Ítalo sentiu na pele o que a inveja é capaz de fazer. Quando ainda era aluno do curso de Direito perdeu duas oportunidades de estágio e ainda um livro da faculdade por causa do outro estagiário do escritório. Ele contou que foi trabalhar no escritório a convite de um dos sócios. “As poucos os outros advogados associados começaram a pedir minha ajuda também e foi então que o outro estagiário, que era filho adotivo do sócio majoritário, começou a implicar comigo e se incomodar com os trabalhos que eu fazia também para os outros sócios do escritório”, contou.
Segundo Renato, houve um dia em que ele precisou pegar um Vade Mecum emprestado na biblioteca da faculdade para auxiliar em um processo e o levou para o escritório, mas não encontrou mais o livro para devolver. “Uma moça que trabalhava lá disse que viu quando ele pegou o livro, então fui lá perguntar se tinha sido ele mesmo que pegou e se ele ainda estava usando porque eu estava precisando”, lembrou. 
Renato contou que isso suficiente para que no dia seguinte o sócio majoritário convocasse uma reunião para me dizer que eu tinha acusado o filho dele de furto. “Eu ainda conversei com o advogado que tinha me convidado para o estágio e ele ainda conseguiu me segurar no trabalho por algum tempo, mas a implicância do outro estagiário foi maior e as picuinhas só foram aumentando até que eu tive que sair”, comentou. 
Dois anos depois, surgiu uma nova oportunidade de estagiar no mesmo escritório. “Voltei a estagiar lá, mas dessa vez a pedido de outro advogado, mas aquele estagiário ainda estava lá. Tudo estava indo bem até que em uma festa de confraternização do escritório ele e o pai foram conversar com o advogado e disseram que eu tinha feito acusações de furto por causa de um livro. Daí deixei o estágio mais uma vez. O pior de tudo é que fiquei sem o estágio e sem o Vade Mecum”, lamentou.
Pecado patológico
O psicólogo clínico Sócrates Ferreira explicou que a inveja se torna prejudicial quando o desejo de uma pessoa passa a ser aniquilar o outro ou o que é dele. “Muitos convivem com essa inveja patológica no seu dia-dia e não se dão conta”, disse. Segundo ele, o sentimento de inveja extremo e destrutivo pode ser reflexo da infância. 
“Segundo Melanie Klein, sobrevivemos a uma inveja primária, a qual vivenciamos primeiramente na nossa tenra infância. Uma pessoa que se incomoda e sente-se agredida por invejar algo de alguém, seja um bem material, seja uma qualidade, enfim, pode estar alimentando um sentimento de inveja extremo, um sentimento inclusive destrutivo a si mesmo e ao outro, de modo que chega a ameaçar sua convivência”, explicou Sócrates.
O psicólogo, que também é professor do curso de Psicologia da Faculdade Maurício de Nassau de João Pessoa, esclareceu que o que alimenta o indivíduo é sempre desejar o desejo do Outro, desde que esse outro também exista e de que também haja o reconhecimento dele. “Quando invejamos (negativamente falando), queremos aniquilar algo de alguém. Contudo, por outro lado, o que o outro pode ter ou ser que nos faz tentar ser algo parecido, ou seja, nos constituir de forma semelhante, é salutar quando reconhecemos no outro algo que gostaríamos de ter ou ser, porém de forma positiva. Isso nos inspirará, nos alimentará, como uma referência”, ponderou.
Seguindo a teoria Kleiniana, conforme prosseguiu o professor e psicólogo clínico, quando uma pessoa se dá conta de que o objeto de desejo faz parte dela também, pode lidar melhor com ter ou ser esse “objeto”, mesmo que fantasiosamente, porque assim encontraria um espaço para lidar melhor e, quem sabe, “invejar melhor”. “É bem verdade que nunca queremos ver em nós coisas que “só” vemos nos outros e que não aceitamos nos outros, não é mesmo? Assim podemos, inclusive, pensar sobre um espectro muito mais amplo, como os preconceitos existentes nos mais diversos campos: idade, sexo, raça, etc.”, acrescentou.
Quando uma pessoa percebe que está sentindo inveja de outra de forma descontrolada, o ideal é que procure a ajuda de um psicoterapeuta, psicanalista e em alguns casos até um psiquiatria, nos casos em que for necessário uma intervenção breve medicamentosa. “É sempre muito prejudicial quando estamos “invejando negativamente” demais, por que uma hora essa inveja toma conta da vida do sujeito e certamente precisará de alguém para auxiliar nesse entendimento. O exercício do auto conhecimento é algo muito valioso e muito necessário, porém pouco valorizado nesse nosso mundo atual, principalmente quando está em questão o mundo tão virtual”, afirmou.
Sentimento levou Caim a matar Abel
A inveja pode aparecer de maneira escancarada, clara e definida, mas pode estar mascarada através de elogios a um ou a outro e estar embutida, conforme alertou o pastor da Igreja Metodista de João Pessoa, Cícero Freitas. “Não existe pecadão e pecadinho, existem consequências do pecado. E ninguém está imune a esta situação”, disse.
“A inveja dá abertura a vários outros pecados como a ira, por exemplo, porque a pessoa passa a querer aquilo que é do outro. Para obter aquilo que o outro tem, o invejoso não mede esforços, o caráter desaparece. A pessoa passa a querer a mesma coisa que o outro. A inveja acaba levando a crimes como o de morte e o pecado do adultério. A inveja da mulher que o outro tem e que gostaria que fosse a mulher dele.O sujeito acaba pensando que vai até matar para ter aquilo deseja. Pode ser também a inveja do posto que o outro tem no trabalho. A pessoa pode querer levantar um falso testemunho contra o outro para vê-lo cair e assuma aquele lugar”, comentou. 
Na opinião do pastor Cícero Freitas, o problema do pecado da inveja não está só nele em si, porque o sujeito vai desenvolver outros tipos de sentimentos que vão desembocar em outros pecados que, por sua vez, também podem se tornar pecados capitais. “O pastor ou qualquer outro líder deve estar atento a todas ministrações, deve estar alertando para que tomemos cuidado”, enfatizou. 
A princípio, uma admiração intensa parece ser coisa boa. “O próprio invejoso pensa até que está elogiando, mas no fundo não está. Esse sentimento mata internamente a pessoa. Vai corroendo internamente. Desde a criação, no livro de Gênesis, a história de Caim e Abel já traz a questão da inveja. A inveja já estava presente no princípio de tudo. E em várias outras situações a palavra de Deus relata história de pessoas que praticam atos por causa da inveja”, lembrou.
Por causa disso, o pastor enfatizou que é preciso atenção redobrada dos líderes religiosos para saber identificar a presença desse sentimento e saber conduzir as pessoas para se livrarem desse problema. “Líderes evangélicos e não evangélicos, não importa o credo. Precisamos estar atentos para evitar que isso gere um problema. Existem pessoas, inclusive, cuja inveja chega a tal ponto que precisa ter acompanhamento de perto. Eu mesmo já tive que acompanhar de perto um membro da igreja que achava que aquele sentimento estava correto, porque ele achava que o que ele queria deveria mesmo ser dele, mas na verdade não deveria”, afirmou Cícero Freitas.
Na opinião do pastor, um dos principais fatores que favorecem o surgimento do sentimento de inveja é a sociedade consumista. “É uma sociedade consumista e desigual. O grande dilema da desigualdade gera isso: querer aquilo que é do outro. Isso é inveja”, definiu.  
De acordo com o pastor, cada pessoa sabe quando está cultivando sentimento de inveja. “A própria pessoa sabe. Todos nós sabemos dos nossos atos. Temos consciência. A pessoa gostaria de ter uma coisa, ter outra, depois vai percebendo que o sentimento vai evoluindo e passa de um simples querer, para uma cobiça de querer chegar lá. A questão da inveja é complexa e é desencadeada de forma diferente para cada pessoa, mas o final é igual para todos. No final fica visível porque todas as pessoas conseguem perceber. Não é nem questão de ambição, nem questão de motivação para se ter algo, mas uma questão mesmo da inveja de ter o que o outro tem”, enfatizou Cícero Freitas. 

Como cristão entendemos a questão da inveja como pecado. A palavra de Deus nos convida a confessar nossos pecados a Deus, que é fiel e justa para nos perdoar. Quando uma pessoa percebe que está cultivando um sentimento de cobiça do que não é seu, deve buscar ao senhor e para pedir sabedoria e discernimento. A eliminação da inveja exige uma mudança de caráter e sentimento. As pessoas devem chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram. Eu tenho que me alegrar porque meu irmão pode ter uma conquista e não inveja por ele ter alcançado uma superação. Por outro lado, se eu detectar que um irmão está com inveja de mim, peço a Deus que mude o comportamento dele para que ele veja com outros olhos e entenda como consegui aquele objetivo, seja lá o que for, se for um carro zero quilômetro, o aumento na poupança, para também se motivar a fazer sua poupança.

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